Com o tema “Desestatização dos Correios: oportunidades e desafios para o Brasil”, o Fórum CNT de Debates dividiu-se em dois painéis. Se, no primeiro momento, a tônica foi a modelagem da desestatização; no segundo, a discussão girou em torno do impacto da medida sobre o setor logístico. O processo deverá ser regido pelo Projeto de Lei n.º 591/2021, já aprovado pela Câmara dos Deputados e, atualmente, sob análise do Senado Federal.
O palestrante Diogo Mac Cord, secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, expôs que os ativos dos Correios devem ser tratados com três pontos de atenção: governança, quantidade de investimentos e qualidade do serviço prestado. Segundo ele, a estatal precisa evoluir nessas três dimensões, apesar do balanço positivo do ano passado, em que se registrou lucro de R$ 1,5 bilhão. “O bom desempenho sinaliza que a empresa está apta a ser privatizada, porque a gente valorizou o ativo, e, agora, tem que garantir que ele vai continuar a ser bem gerido”, afirmou.
Sobre o receio de haver uma grande baixa no quadro de funcionários da empresa, Mac Cord tranquilizou: “Quem fala que a privatização vai gerar desemprego não observa a quantidade imensa de empregos gerada pelo aumento de investimento. Isso acontece em todas empresas estatais que são privatizadas. Assim foi na Vale, assim foi na Embraer, assim foi na CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Uma empresa bem gerida e capitalizada é um veículo de investimento fortíssimo e, por consequência, um veículo de geração de emprego e renda para toda a população brasileira”.
Em sua participação, Urubatan Helou, diretor presidente da Braspress, mostrou preocupação com as diretrizes contidas no PL n.º 591/2021, que preveem, entre outros aspectos, a aquisição de 100% da estatal pelo arrematante (sem fatiamento), com exclusividade na exploração de serviços postais por, pelo menos, cinco anos. Se os termos forem mantidos, ressaltou o empresário, “será o mesmo que trocar o monopólio do Estado pelo monopólio privado”. E complementou: “No vácuo do monopólio, vêm a incompetência e a inobservância com relação a questões de custos”.
Helou também questionou a forma como o projeto delimita a estabilidade de emprego do atual quadro da empresa, embora reconheça a qualidade do corpo técnico. “Vamos colocar as mesmas regras do mercado”, enfatizou. E concluiu da seguinte forma: “Não sou contra a privatização, sou contra a desinteligência de mercado. Se for necessário privatizar, por uma questão de diminuição do Estado, que essa desestatização não signifique a transferência de privilégios à iniciativa privada”.
Último convidado a falar no Fórum CNT de Debates, Piero Minardi, sócio-diretor do escritório da Warbug Pincus em São Paulo, ponderou que a privatização dos Correios é inevitável e está acima de posições ideológicas. “É um caso de disrupção tecnológica, que chegou ao setor de logística, como chegou aos bancos, por exemplo. A realidade se impõe”, argumentou. “A questão é o que fazer daqui para frente. Se a questão da competitividade não for resolvida, a empresa vai continuar sendo comida pelas beiradas pelos players do mercado”, avaliou. “É preciso dar uma satisfação para sociedade, dizer o que é o melhor a ser feito, senão, o ativo vai se dissolver aos poucos”, previu.