Promovido pelo SEST SENAT e com conteúdo desenvolvido pela HSM, o workshop Family Business reuniu grandes empresários do setor de transporte na sede da CNT, em Brasília, entre 14 e 15 de outubro. No segundo dia do evento, os participantes tiveram a oportunidade de conhecer a fundo as ideias de Josh Baron, um dos fundadores da consultoria BanyanGlobal e coautor do manual da Harvard Business Review sobre empresas familiares.
Para Baron, o primeiro passo é reconhecer a insuficiência do modelo tradicional de gestão, que imagina empresas como pirâmides, em que a base é feita de empregados e o CEO ocupa o topo. Entre um e outro, há uma camada de executivos. “Esse modelo ignora a força da propriedade e seus impactos no negócio. Quando se trata de empresas familiares, os donos têm poderes importantes, como o de destruir, sustentar e competir”, raciocinou.
O especialista fez, ainda, uma reflexão sobre conflitos em família, na qual concluiu: “Conflito demais é ruim para os negócios, mas ‘conflito de menos’ pode ser tão ou mais nocivo”. “É preciso aprender a ‘colocar o elefante na sala’, ou seja, levantar as questões críticas, para o bem do negócio”, continuou. E fez um comentário detalhado sobre o que chamou de “os cinco direitos básicos de todo proprietário” (veja destaque abaixo).
Já o palestrante Luis Augusto Lobão, especialista em governança, instigou os participantes a desenvolverem uma visão de futuro, em que se possa antecipar eventuais crises e oportunidades. “O primeiro pilar da longevidade de uma empresa é construir um futuro viável. Precisamos ter os nossos próprios radares”, disse. Ele ponderou que esse tipo de postura exige, muitas vezes, mudanças profundas na cultura organizacional. “E só é possível alterar a cultura mexendo em três elementos: símbolos, ritos e heróis”, apontou.
A presidente do Conselho do Grupo Sabin, Janete Vaz, apresentou o case de sucessão em que ela própria foi protagonista. A liderança do grupo foi disputada entre os três filhos da fundadora e três superintendentes não familiares. No fim das contas, prevaleceu a percepção de que a pessoa mais preparada para a função vinha do corpo técnico “Isso ficou claro quando colocamos no papel, em 20 itens, o que era o ‘jeito Sabin de ser’”, revelou. “Percebi que era importante diminuir para que os outros crescessem, mas o nosso legado é muito forte”, ensinou.
Em sua participação, Fernanda Brasil, sócia-diretora da Banyan Global, enfatizou que a melhor forma de aprender é fazendo. Ela se referia aos herdeiros que, muitas vezes, estão pouco familiarizados com o negócio. “Se o desejo do proprietário for inserir os filhos no dia a dia da empresa, é muito importante não os deixar soltos. Eles precisam ter responsabilidades claras e, também, liberdade para tomar decisões. Que eles assumam as consequências de suas decisões”, concluiu.
Os cinco direitos do dono do negócio, segundo Josh Baron
1. Desenhar: “O tipo de propriedade pode parecer uma formalidade firmada lá atrás, em um instrumento legal. Você pode nunca ter parado para pensar em como a sua família se constituiu como proprietária do negócio: qual é o escopo dos ativos compartilhados; quem pode ser dono; e quais proprietários têm o controle. No longo prazo, cada uma dessas decisões traz vantagens e desvantagens para a saúde tanto dos negócios quanto das famílias empresárias.”
2. Decidir: “Proprietários têm o direito de tomar a decisão que bem entenderem para tocar o negócio. Eles escolhem se essas decisões serão tomadas diretamente ou delegadas a terceiros. Eles também determinam como as decisões são tomadas – se por voto da maioria, por unanimidade ou por outro método. E eles podem escolher entre tomar decisões à medida em que as situações se apresentam ou decidir com base em políticas previamente definidas.”
3. Valorizar. “Proprietários têm o direito de definir sua visão de “sucesso”. Eles podem maximizar o retorno dos acionistas ou sacrificar uma parte em nome de objetivos não financeiros, como a promoção de um meio ambiente mais sustentável. Proprietários também podem estipular qual fatia do lucro anual será reinvestida na empresa e qual será usada para pagar dividendos. E eles podem decidir se mantêm controle total sobre a companhia ou se renunciam a parte dele, trazendo novos sócios ou contraindo dívidas.”
4. Informar: “Proprietários têm o direito a acessar informações sobre seus negócios, entre elas como está o desempenho financeiro e como as ações estão divididas, ou seja, quem possui o quê. Tal acesso, por sua vez, dá aos proprietários o direito de determinar o que deve ser compartilhado, seja com familiares, seja com empregados, seja com a comunidade. Se uma empresa decide abrir o capital, os proprietários têm de renunciar a esse poder em nome da transparência necessária. Quando o negócio é privado, os donos têm a prerrogativa de escolher o quanto de informação estará disponível aos públicos interno e externo.”
5. Transferir: “Por fim, proprietários têm o direito de decidir como e quando deixar de serem proprietários. Eles podem decidir quem será o dono depois deles; de que forma será transferida a propriedade (se por ações ou por participação); o timing da transição. A transferência de direitos tem variados níveis de restrições, a depender de cada país. Nos EUA, por exemplo, os donos podem tranquilamente vender ou doar suas companhias para quem eles quiserem, exceto se as cotas fizerem parte de um fundo – nesse caso, há exigências específicas. Por outro lado, no Brasil, via testamento, pode-se dispor livremente apenas de metade do patrimônio – os outros 50% são repartidos de forma equânime entre o cônjuge e os descendentes diretos.”