A pandemia decorrente do Covid-19 provocou uma ampliação na crise do serviço de saúde dos municípios, assim como nos sistemas de transportes públicos, demonstrada pela queda repentina de passageiros e receitas, que chegou a superar os 50%.
As prefeituras e estados, responsáveis pelos serviços de transporte coletivo, no entanto, se viram compelidos a voltar toda a atenção e recursos para o combate ao Coronavirus, o que é lógico, pois as vidas das pessoas estavam sendo ceifadas de forma acelerada. Já o transporte coletivo foi totalmente abandonado à própria sorte, o que não é admissível em se tratando de um serviço público essencial.
Diferentemente da saúde, onde ações emergenciais de contratação de médicos e demais profissionais da área, respiradores, EPIs, adaptação e até construção de hospitais de campanha, que puderam ser realizados em poucos dias, no transporte coletivo é bem diferente, uma vez que os investimentos em gestão (pública e privada), em tecnologia, controles, aquisição de veículos e nova forma de contratação dos serviços, pode demorar meses e até anos para se concretizar, valendo destacar a necessidade prévia da decisão política em priorizar esse setor.
No cenário atual, após um ano e meio do início da pandemia, passamos a vivenciar um período de descompressão e, com o avanço mais efetivo da vacinação, um horizonte bastante promissor começou a ser vislumbrado: voltaremos, em curto prazo, ao funcionamento quase que normal das atividades econômicas e sociais.
Consequentemente, o transporte coletivo assume agora a posição do maior desafio a ser enfrentado pelas cidades, principalmente aquelas de mais de 200 mil habitantes, cujos sistemas estão em risco de continuarem estagnados no pós pandemia da Covid-19 e tendo entrado praticamente em colapso em muitas delas.
A população de mais baixa renda, que é maioria, depende fundamentalmente do serviço de transporte público coletivo nos seus deslocamentos diários para o trabalho, escola, saúde e até ao pouco de lazer a que possam ter acesso.
A pandemia do transporte coletivo continua em curso e as providências para a debelar, infelizmente, ainda não foram sequer pensadas.
Carlos Batinga – Especialista em Transportes. Membro do conselho da ANTP e do MDT