As empresas de transporte interestadual que atuam no Rio Grande do Norte estimam que a recuperação do setor acontecerá em 2023, quando o fluxo de viagens deverá se igualar ao de 2019, último ano antes da pandemia de covid-19. De acordo com o presidente da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Nordeste (Fetronor), Eudo Laranjeiras, as perdas foram menores em comparação com os setores de transporte intermunicipal e urbano, mas, mesmo assim, foram significativas.
Os balanços deste ano ainda estão sendo calculados pelas empresas, mas 2021 foi de recuperação e a tendência é de que 2022 siga o mesmo ritmo, segundo Laranjeiras. De 2019 para 2020, os prejuízos ficaram na casa dos 50% e cerca de um 1/3 dos trabalhadores foi demitido no início da pandemia. Apesar disso, o setor está otimista com a retomada das viagens, o que também estimula a reposição dos postos de trabalho. Outro fator que vem contribuindo para a recuperação das viagens interestaduais é o aumento do preço do bilhete aéreo.
“É o que está tendo a melhor recuperação, as empresas são bastante estruturadas a nível de Brasil e estão conseguindo se reerguer. Além disso a passagem de avião cresceu assustadoramente e as pessoas naturalmente passam a buscar mais a rodoviária. A concorrência que o transporte aéreo fez durante um certo tempo está deixando de existir pelo preço”, comenta Eudo Laranjeiras.
No país, no acumulado de 12 meses, as passagens aéreas tiveram alta de 56,81%. A diferença é considerável se comparada ao índice geral da inflação acumulada de 12 meses, que ficou em 10,25%, o maior desde fevereiro de 2016. A alta dos combustíveis está diretamente ligada a essas tarifas salgadas. O setor aéreo é extremamente sensível a esse produto, porque o querosene de aviação é um dos principais custos para as companhias.
De acordo com o presidente da Fetronor, as viagens de fim de ano e no período de férias darão o tom da retomada em 2022. “Continuando do jeito que está, a expectativa é positiva porque as pessoas estão buscando os ônibus. Resta torcer para que essa situação lá do Reino Unido, com a Ômicron, não se repita aqui. Estamos confiantes, tendo em vista o avanço da vacinação, até mesmo porque a gente não tem muita resistência com a vacina, exceto com algumas pessoas que não têm o que fazer e querem tumultuar, mas a perspectiva é muito boa. Desta forma, em 2023 já vamos atingir os índices do pré-pandemia“, pontua.
Quem trocou o avião pelo ônibus foi o zelador Severino da Rocha Lima, morador do distrito de Cidade Tiradentes, no estado de São Paulo. Ele veio visitar a família no Rio Grande do Norte e vai voltar para casa por terra. “A gente tem que pesquisar porque a situação está difícil para todo mundo. Vim para cá faz 45 dias e agora estou retornando para lá, por isso estou aqui pesquisando os preços das passagens. De qualquer forma é bom que as coisas estão mais tranquilas e a gente está podendo viajar”, afirma.
No Rio Grande do Norte pela primeira vez, a filha de Severino, Renata Lima, também vai pegar a estrada para voltar a São Paulo. “Nunca tinha vindo aqui e foi bem legal conhecer as praias, gostei muito. É bom que agora a gente está podendo viajar com mais tranquilidade depois da vacina, só que a gente tem que fazer a nossa parte também, se cuidar, se prevenir, usar a máscara que ainda é muito importante”, afirma.
Laranjeiras destaca ainda que, além da suspensão das atividades por causa da pandemia, o setor também registrou perdas para o transporte clandestino de passageiros. “No interestadual, assim como em todo sistema de transporte de passageiros, existem os benefícios da meia-passagem, gratuidade para o idoso, benefício para as pessoas com deficiência, tudo que o clandestino não dá. Eles cobram mais barato, mas não têm responsabilidade com nada. É um risco muito grande”, diz.
Ao todo, pelo menos oito empresas operam com linhas que ligam o RN a outros estados: Empresa Gontijo de Transportes, Nacional Expresso, Expresso Guanabara, Viação Itapemirim, Viação Catedral, Viação Soares, Auto Viação Progresso e Viação Nordeste, a única potiguar. De acordo com a Socicam, que gerencia o Terminal Rodoviário de Natal por meio de contrato de concessão, cerca de 2.500 pessoas embarcam e desembarcam diariamente na rodoviária.
O dirigente da Fetronor estima que as empresas do transporte interestadual perderão 20% do mercado para aplicativos e veículos clandestinos no pós-pandemia. “A concorrência com esses aplicativos é muito desleal. Apenas como comparação, é como se fosse o camelô que fica na frente da loja, sendo que a loja paga todos os impostos. O camelô vai vender mais barato, mas eu não sei se aquele produto é de qualidade. Todo o sistema passa por esses percalços, por isso que é necessário a aprovação do projeto de lei para criar um marco legal para reformular esse modelo”, destaca.
Marco legal do transporte
Laranjeiras se refere ao Projeto de Lei 2541/21, que propõe a desoneração da folha de pagamentos para 17 setores da economia, incluindo o do transporte público coletivo urbano rodoviário. Os empresários afirmam que o passageiro é responsável por custear sozinho o transporte coletivo e por isso pedem um subsídio para bancar os benefícios sociais, como meia-passagem estudantil e gratuidades de idosos e pessoas com deficiência.
Segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), o setor defende soluções estruturais e definitivas que reestabeleçam e assegurem o equilíbrio econômico-financeiro dos sistemas de transporte público, incluindo uma nova política tarifária, que remunere o custo do serviço prestado, independente da tarifa cobrada do passageiro.
A NTU defende também “uma política de preços diferenciados para os insumos do setor; políticas de apoio e fortalecimento do transporte público por parte do governo federal, estados e municípios; e a adoção de um novo marco legal para o transporte público brasileiro, que modernize as regras atuais, garanta uma tarifa barata para o passageiro e um transporte de melhor qualidade em benefício de toda a sociedade”.
Cuidados sanitários
O representante da Fetronor afirma que a manutenção dos cuidados é fundamental para evitar novas ondas da pandemia, que eventualmente possam suspender as viagens. Eudo Laranjeiras classifica como positivo a adoção do passaporte de vacina para as viagens. “A gente avalia como positivo porque a pessoa vai se sentir mais segura sabendo que a outra pessoa que está ao lado dela está vacinada. É uma garantia muito boa. A norma é essa e ela será cumprida”, diz.
Na última quinta-feira (16), a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap) orientou que todas as rodoviárias do Rio Grande do Norte solicitem a comprovação do esquema vacinal para acesso aos locais. “A orientação é fundamental para ampliar a segurança da população do Rio Grande do Norte e garantir que o esquema vacinal de quem chega ao Estado seja completo”, disse Kelly Lima, coordenadora de Vigilância em Saúde da Sesap.
Em Natal, conforme apurou a reportagem da TRIBUNA DO NORTE, o passaporte vacinal não está sendo solicitado para acesso ao terminal. Nos guichês de passagens, alguns vendedores afirmaram que ainda estavam na dúvida se exigiam ou não o comprovante de vacinas, no momento de compra dos bilhetes. A TN tentou falar com a administradora da Rodoviária de Natal, mas o porta-voz da empresa não estava no local.